domingo, julho 01, 2007

Primeiro eu conquisto Manhattan...

Ontem comentei um post no Aspirina B. Fui dormir, sonhei um pouco, sonhei com o assunto, e cheguei a algumas conclusões. Aqui ficam, a quem aproveitarem.

Um gajo quando diz que uma canção é "das melhores de sempre" deve ser prudente. Músicas vão e vêm, entre os nossos ouvidos, e o amor esporádico não interessa. É preciso pudor.

Dizer que uma canção é "das melhores de sempre" não é a mesma coisa que dizer que "é das minhas preferidas". "Melhores de sempre" envolve o juízo avaliador de terceiros hipotéticos, um contexto inter-subjectivo. Ou seja... outras pessoas (and scooby-do-be-doo). Uma coisa (e aqui passamos por breves momentos para a teoria da Melhor Coisificação De Sempre Geral) é "das melhores de sempre" se pelo menos muita gente puder hipotéticamente concordar com isso. Don't get me wrong, não que seja incorrecto ou má vibração dar uma opinião, aliás isto estamos sempre a falar de opiniões, duh!
É óbvio que um gajo pode achar que a "You're So Vain" a Carly Simon é das melhores música de sempre. Mas dizer isso causará um sorriso de troça na maioria das pessoas que ouçam tal coisa (notem que esta reflexão visa, mais que moralizar sobre gostos, evitar esse tipo de sorriso trocista nas bocas de outras pessoas, especialmente eu) porque não tem em conta a outra parte, o "será que esta canção pode ser objecto de consideração como uma das melhores de sempre por uma parte importante da humanidade?"

Fazer este raciocínio
não implica ceder aos gostos dos outros (não te preocupes bébé), dizer que uma música "é das melhores de sempre" ou "das minhas favoritas" é na prática igual: opiniões e olhos do cú, etc. Mas na teoria não é: "das melhores de sempre" implica pelo menos uma gradação semi-objectiva (ainda que totalmente ficcionada, quem é que pode dizer com autoridade se uma canção "é" "melhor"? Isso, deus, apenas, sabe), porque se não presumisse essa objectividade dizíamos, sempre e sem excepção, "das minhas favoritas".
E objectividade (mesmo que hipotética) na gradação implica mais do que isto, mais do que gostos pessoais: implica pelo menos alguma possibilidade de reconhecimento de qualidade. E isso não pode ser puramente pessoal, senão era absolutamente subjectivo.
Isto é fodido, eu sei, mas não é só para o eventual leitor: a mim dói-me uma perna porque caí a jogar à bola (mas dói tão bom) e estou a tentar escrever um texto metodológico sobre não "as melhores músicas de sempre" (isso era fácil como uma Segunda-Feira um Domingo de manhã), mas sobre "quando se deve usar a expressão melhores músicas de sempre". É fodido eu sei, mas let's get it on (para me motivar costumo ouvir o "Eye Of The Tiger").

Onde é que eu ia? Ah sim, julgamento minimamente objectivo pressuposto na expressão "das melhores músicas de sempre" (que passarei a abreviar para "DMMDS"). Pois, é isso. Assim temos que posso dizer (mas não digo) que a "Let's Stay Together" do Al Green é DMMDS mas já não o "Fight Test" dos Flaming Lips, embora eu prefira esta última. A canção dos Flaming Lips é muito boa, mas quase ninguém dirá que é DMMDS, por isso eu também não digo. Posso dizer que a "Marie's The Name (His Latest Flame)" do Elvis é DMMDS mas já não a "Ladyflash" dos The Go! Team.

Quanto a esta última canção há uma segunda regra a acrescentar: nenhuma música com menos de 15 anos pode ser DMMDS. Nunca! Para pessoas muito jovens (abaixo da idade de consentimento) ou americanos incultos, este prazo pode ser diminuído para 10 anos (jovens, americanos - dá-se o desconto). Menos que isso e uma canção NÂO É DMMDS. Assunto arrumado.

Portanto até agora temos: possibilidade de muitas outras pessoas acharem o mesmo e um crivo de 15 anos. Uma terceira regra é, e não posso sublinhar isto o suficiente, NUNCA dizer que uma música de que gostamos como guilty pleasure é DMMDS! Nunca. Isto das canções guilty pleasure tem de ser como os adolescentes que se masturbam: todos o fazem, é verdade (é fun. fun, fun), mas quando se faz não basta fechar a porta do quarto, é melhor tapar o buraco da fechadura também. Há gente que um dia está muito bem a ouvir uma música dos Aqua (ia escrever ABBA, mas esses já foram recuperados para o lado certo da Força) quando é apanhado por um amigo e depois tenta evitar o embaraço ensaiando a zebra "mas isto é uma DMMDS!"
ERRADO! Fazer isto não vai causar só um sorriso de troça em quem ouvir, causa um desdém eterno por toda e qualquer opinião musical futura do punheteiro musical.

Uma última regra: a lista das hipotéticas MMDS tem de ser hipotéticamente pequena. 20, 30 músicas. Pode-se usar uma concepção alargada de DMMDS, com centenas e centenas de canções, mas isso causa aquilo que designei como o efeito "Mendocino" (d'aprés Sir Douglas Quintet). Considerar a "Mendocino" como uma DMMDS pode ser válido mas envolve o alargamento considerável da lista. E assim a "qualidade" dessa lista cai um pouco, o que a torna (à lista DMMDS) pouco eficaz para descrever o [palavra que ainda está por inventar] que um "A Whiter Shade of Pale" causa numa pessoa com dois dedos na cara e dois olhos de testa.

E estas regras são para quê? Agir sempre de acordo com o que diz este texto não será, agora sim, um claro vergar da espinha ao gôut des autres? Talvez. A festa é sua, chore se quiser! Mas como esse dobramento lombar é feito de acordo com uma lei que eu enunciei, pelo menos é um vergar da espinha a uma lei minha (eu escrevi a lei e por isso ganhei). Mwahahahaha, o mundo pertence-me e verga-se à minha vontade!!!! Quero ser adorado!

Ou então caguem de alto nisto tudo, sejam promiscuos e façam o que quiserem sem critério e juízo, como dizem esses sábios da canção portuguesa: Para Mim Tanto Me Faz!

7 comentários:

  1. O que é uma "pessoa com dois dedos na cara"?!

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  2. Escreves uma merda tão grande para falar de gostos musicais e opiniões pessoais?? Mais grave ainda nao mencionas o "enorme" João Pedro Pais, O Emanuel, "The One and Only" Clemente, Ana Malhoa que veio suceder o talento mais febril que Portugal alguma vez conheceu - Roberto Leal???

    Isto de um "bloguista" que me passou uma cassete re-gravada 3 vezes com um album de uns irlandeses que tive de gramar nos primeiros meses que tive em Londres, que por conseguinte foram os mais depressivos???

    Tá fixe o blog, mas feitas as contas, se metesse Dream Theater ao barulho, acaba-se a discussão!! eles teem DMMDS!!!

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  3. rb: uma pessoa com dois dedos na cara é como que um pequenito duende, mas mais giro e dançarino.

    cardina: como bem sabes, gostos não se discutem, mas pode-se troçar deles à vontade. este post é para aquelas pessoas que estão fartas de ver os seus gostos gozados a torto e a direito, é um manual de instruções para gostos banais.
    Dos Dream Theater tenho uma opinião um pouco mais reservada que tu, mas quanto aos irlandeses julgo que concordamos ;)
    Aquele abraço. (tás pra vir cá breve?)

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  4. Sim, por muito que te surpreenda eu compreendi o post ;)...

    has-de me dar o teu mail. Sim final de Agosto tou ai, lá para 24 ou 25...ando a marcar uma jantarada, tás convidado.

    O Maiquelnaite (blog) também sigo, tens lá umas cenas muito altamente...aquele post do Kevin Baco, muito á frente! e o da
    Lolita!! ehehehe

    O abraço de volta

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  5. Boa!A tua lista está no post? Além das q dizes ainda topei a Esay("segunda feira de manhã") e a We Care a Lot dos grandes Faith No More,Hurts So Good(dói tão bom9, dont get me wrong dos Pretenders e os D'ZRT?!!!

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  6. Mas não é segunda feira, sunday é domingo já agora.

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  7. Anónimo: tem toda a razão quanto à Easy, foi um lapsus musicae, está corrigido.
    Respondendo à sua pergunta:
    não está no post a minha lista das MMDS, está uma lista de 20 ou 30 (contei 20, mas pode ser mais), como exemplo de uma lista perfeitamente aceitável (com excepção de uma guilty pleasure que se vê a milhas, uma das que você identificou). Um abraço.

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