sexta-feira, agosto 22, 2008

As viagens de carro

Ontem viajava de carro no lugar do morto. Eis que não quando, noto uns olhinhos brilhantes que se dirigiam a mim a uma velocidade vertiginosa. Quando dei conta era um insecto. Que esteticamente se esborrachou contra o pára-brisas. Tentou desviar-se, o insecto. Mas não deu. Nessa altura, recordando a trejectória utilizada pelo insecto, apercebi-me do sadismo dos espelhos retrovisores laterais. Um insecto esforça-se, desvia-se, utilizando todas as suas capacidades aerodinâmicas, consegue não ficar esborrachado contra o pára-brisas, e enquanto respira de alívio, espeta-se contra o espelho retrovisor lateral. É triste e estúpido, como tudo. Como as traças que confundem as lâmpadas com a lua e vão para o inferno. Isto para quê? Para isto. Os insectos vivem e sobrevivem, subsistem à conta dos outros. Do sangue, da vida, da comida, do trabalho, da estupidez, dos outros. Tal como os porcos. Como por si só não conseguem, preferem utilizar a capacidade de terceiros para sobreviver e aparecer. Têm em comum, ainda, o facto de chegarem e partirem deixando apenas uma leve sensação de aborrecimento e, por vezes, de satisfação. É esperar.

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