sábado, maio 26, 2007

Há merdas do caralho

Uma merda que não suporto é as pessoas que dispendem, e reparem que não estou a dizer desperdiçam, dispendem o seu tempo a escrever weblogs, pensarem que toda a gente que desperdiça o seu tempo a ler weblogs de outras pessoas quer mesmo saber o que se passou no evento "cultural" a que essa pessoa assistiu no dia anterior como se um gajo lesse todos os dias um blog de comentário político só, mesmo só à espera daquela rara oportunidade, quase impossível de prever, em que o autor diz o que achou daquele filme iraniano que está em cartaz. Um ano a ler sei lá, a lenga-lenga interminável do Arrastão, a propósito parabéns, contra o Sócrates, mas fodasse valeu a pena porque apanhei o post em que o gajo diz o que acha do Babel!

Ele é o concerto que foi inesquecível, ele é o livro que é bom comó caralho e nada de transcrever umas passagens para a malta avaliar o calibre, ele é o teatro que foi inesquecível (não, não estou com falta de variedade de adjectivos, pelo menos eu não), ele é o disco que "é já um clássico" e a única merda que vale a pena andar a ouvir, e isto acontece muito como se uma merda de um disco dos arcade nãoseiquê (fire) apagasse centenas de anos de música que vale a pena andar a ouvir, ele é isto e muito mais.

Por isso vou descrever em dolorosamente detalhados pormenores, e há que ver a diacrónica subjacente à expressão "detalhados pormenores" e à auto-referência que estou a fazer neste momento, os concertos inesquecíveis a que tive oportunidade de assistir ontem à noite, do Tom Morello e da Dave Matthews Band. Ainda pensei em escrever "e do Dave Matthews", mas assim pareceu-me mais pendanto-rádio-universidade.

O Tom Morello foi estranhamente entertaining, só o gajo de guitarra acústica e mai nada em palco. Aconselho vivamente a festa do avante! a contratar o gajo para lá ir tocar: o gajo dedicou uma música aos trabalhadores da margem sul, outra às mulheres "de esquerda", uma outra contra a administração bush e ainda uma aos sindicatos (não estou a brincar). Dedicar uma música aos sindicatos é, convenhamos, a dedicatória mais brilhante desde "O Jogador" do Dostoyevski, que nem sequer era uma dedicatória mas sim um livro. A certa altura o Morello disse que o mundo só ia ao sítio quando os pobres se levantassem em fúria contra os ricos, e eu mesmo a ver que o gajo ia desfazer a cara do Dave Matthews que não é um gajo pobre e estava mesmo ali ao pé, contra a sua guitarra mas não afinal ficou-se só pelas cantigas. Acabou a noite a tocar guitarra para o Dave Matthews o que é, há que dar o crédito, uma maneira filha da puta de se levantar em fúria contra os ricos, nada como entretê-los com belas baladas para lhe foder a vida, pobre (rico) do Dave.

Quanto ao concerto da DMB: foi muito bom. Gosto muito de umas músicas dos gajos, é certo. Mas também sou inimigo jurado a sangue de galinha preta de todas as bandas semi-consensuais e por isso estava com os dois pés atrás (fodasse é incrível o quanto este trocadilho, será trocadilho que se diz?, perfeitamente aceitável dos dois pés atrás está batido) de nariz torcido portanto quando entrei para o conecrto. A isso ajudou certamente o segurança que me disse que o "David Matthews" começava às nove e o anormal da rádio que esteve a tarde toda a dizer que era grande fã de "Dave Mérius". Mas o concerto foi BRUTAL. Diria mesmo que foi BRUTAL. BRUTAL é a palavra.

Um gajo vê um tipo preto e ridiculamente obeso com um trompete na mão e pensa automaticamente "este gajo deve tocar trompete comó caralho". Estou em condições de confirmar que este estereótipo é totalmente verdadeiro. E o tal gajo obeso nem sequer tocou muito ontem à noite, mas lá que toca comó caralho, isso toca. E o resto da banda Dave Matthews também, incluindo o Dave Matthews. Valeu cada um dos 35 euros e isso é uma coisa que não se pode dizer de todos os concertos que me custaram a módica quantia de sete contos que foi o que paguei para ver. Se voltarem a Portugal não vou voltar a ver porque lá está, sete contos devia dar-me direito a pedir as músicas que queria ouvir mais um jantar de seis contos e quinhentos, mas recomendo a quem me perguntar. E eu sei que provavelmente ninguém me vai perguntar tal como ninguém me pediu que falasse do concerto, e se há merdas que eu não suporto é isto de ter a pedância de achar que a nossa opinião conta para alguma coisa e toca de pôr as nossas opiniões sobre o concerto de ontem na internet que o pessoal precisa mesmo de saber o que aconteceu no pavilhão atlântico e se o Dave tocou o "Touch Of Your Skin" (título de canção inventado mas que aposto que é mesmo uma música do Dave Matthews). Mas lá está, há merdas do caralho, e isso é que ninguém contesta. E tenho um soft spot por gajos que tocam 3 horas e meia, pareciam uma banda de baile, que é o maior elogio que se pode fazer a uma banda que não seja de baile.

2 comentários:

  1. 35 euros é realmente carote.

    Por 35 euros já dava para fazer algumas coisas boas, como ir ver concertos de música, ou espectáculos em que há bandas que não fazem o espectador ter vontade de se tornar serial killer, ou shows em que agrupamentos musicais tocam e cantam determinadas coisas que não dão vontade de ir lá e partir-lhes a tromba.

    Dave Matthews não é muito mau. Não aquece nem arrefece. Há coisas piorzinhas. É assim-assim. Ah, estava ali alguma coisa a tocar? É mais ou menos. Aguenta-se. É quase razoável.

    Entre o "aguenta-se" e o "ou se adora ou se odeia" só há uma opção.

    O Dave demorou mesmo até vir. Adeus e boa viagem.

    Ao menos o Tony Carreira sempre contibui para o PIB português.


    Mestre Isplinter


    (PS: não, na verdade ele nem sequer é "mais ou menos". É só mau. E isso é mau à mesma)

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  2. Não é mau não senhoras. É um gajo que soube mugir o seu talento para sacar uma música muito boa de vez em quando, enchendo chouriço a maior parte do tempo. E o concerto foi BRUTAL, lembro-te que já vi os Pixies e os Sonic Youth e os Doors e o Mozart, por isso sei do que falo. Pareciam uma banda de baile, estavam ali para dar um concerto e não para "tocar aquela". Entragaram a carta ao Luís Garcia, e na carta estava escrito "um concerto do caralho".

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